Monday, December 12, 2005

François Truffaut, 1959


Eu acho que, no geral, a diferença é que cada um de nós busca levar ao cinema uma certa verdade, ao invés de trabalhar baseado numa verdade vinda de fora. A verdade de Mercado negro (Le Chemin des écoliers) é completamente exterior, em constante referência a uma verdade cinematográfica à qual todo mundo está acostumado. Ora, já faz muitos anos que não há mais verdade no cinema francês. Veja o que acontece com os cenários, por exemplo. Todos os nossos filmes têm em comum o fato de serem extremamente realistas. E cada um de uma maneira completamente diferente. E o sucesso deles depende do seu grau de realismo. Para nós, o importante é nossa maneira de ver a vida, é falar sobre o que conhecemos. À verdade estereotipada, marca do cinema francês, nós tentamos opor nossa própria verdade pessoal. Em nossos filmes nunca há uma moça fechando a porta, ofegante, clichê encontrado em todo filme dramático e psicológico. Quando não sabemos fazer uma coisa, fazemos uma elipse, só filmamos o que acreditamos ser interessante e o momento da ação que julgamos poder dominar. Se nossos filmes chocam, não fluem, não procuram simplesmente oferecer um momento agradável, é que tentam ser um conjunto de coisas fortes, importantes, que precisam ser ditas urgentemente. Parece-me que os jovens realizadores estão mais preocupados com o que se passa na tela do que com a técnica. Atribuem uma grande importância aos personagens e assuntos de seus filmes. Têm um respeito maior pelo público e a idéia, um tanto ingênua, de que a sua sinceridade é algo positivo. Mas não há linhas estéticas comuns. O que há são pontos de interseção devidos ao acaso.

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